sábado, 2 de abril de 2016

Depressão Anaclítica e Hospitalismo

 
 
 


Entende-se pelo conjunto de perturbações que o bebé pode sofrer devido a carências maternas quantitativas. Na ausência da mãe, as reações consequentes da separação, podem provocar, ao fim de três meses, uma depressão anaclítica, devido à falta da figura materna e, ao fim de cinco meses, pode emergir um quadro grave de hospitalismo, que pode não ser inteiramente reversível. 

Quando crianças de idades muito precoces são sujeitas a uma privação de contato com os seus entes mais próximos, seja em situação de um abandono materno ou a uma temporada passada num hospital, vão sofrer de problemas tanto físicos como psicológicos que podem afetar o seu desenvolvimento normal. Tais como: atraso no desenvolvimento corporal; insônias; queda de peso; alteração do seu estado geral; incapacidade de adaptação ao meio; fragilidade e imunidade a doenças infeciosas; mutismo semelhante ao autismo.

Este autismo pode ter consequências muito graves como, por exemplo, levar a uma psicose.  As crianças sofrem de graves insónias e estão sujeitas a doenças inter-decorrentes de deficiência ao nível imunitário, estão sujeitas a doenças orgânicas, pois vão ficando cada vez mais fracas e muito paradas, sem grande ação e sem expressão no rosto.
Nos casos de total carência afetiva, ligada à falta de qualquer vínculo maternal, os distúrbios podem levar à morte. A um nível psicológico, existem diversas reações à doença física, ao nível da realidade e ao nível do imaginário. A nível da realidade, as crianças sofrem pela separação dos pais, amigos e do seu meio. Ao nível do imaginário, a doença mobiliza angústias e fantasmas, em função do modo como a criança se representa na doença.
A doença é sentida como um castigo, como uma falta cometida por algum ato, que lhe cria culpabilidade, e da qual agora está a sofrer as consequências. A criança sente que está a ser punida por alguma falta que cometeu. Parece um pouco dramático, mas se se pensar que se trata de crianças muito pequenas e que se encontram hospitalizadas num quadro neutro, sem terem o apoio e a presença das figuras paternais significativas para o bebé, nos cuidados prestados ou, em situações limite, em casos, de abandono, pode-se compreender que se trata de uma situação muito grave. 


O que está em jogo do ponto de vista psicológico é a perda de identidade do ser, já que a criança não usufrui da presença da figura materna. Nestes casos, nas suas relações faltou o rosto do outro, porque este está ausente e consequentemente as crianças entram numa grande depressão. Não têm um sentimento de continuidade e estabilidade nas relações com o outro, pelo contrário, o que vivenciam é uma separação, uma distorção da realidade que conheciam e uma descontinuidade nos cuidados prestados pelos pais. A separação da família e do seu lar é uma experiência dolorosa e a que não está habituada. 

Os estudos efetuados por René Spitz levaram a que, em 1945, houvesse uma primeira reforma das condições de hospitalização de crianças pequenas e que em 1950 a Organização mundial de saúde passasse a incluir nas suas orientações um documento de nome “Cuidados maternos e saúde mental”, onde se afirma: “...ficar claramente demonstrado que os cuidados maternos no decurso da primeira infância desempenham um papel essencial no desenvolvimento harmonioso da saúde mental”
 
 
 
Bibliografia:
Livro de Psicologia B do 12º ano (1ª Parte)
http://www.scribd.com/doc/2437175/Desenvolvimento-na-primeira-infancia-Perspectiva-de-Rene-Spitz