Se um amigo, um familiar ou seu parceiro está a sofrer com a depressão, você pode sentir-se confuso e frustrado na forma de lidar com essa pessoa. Eventualmente, por vezes você sente-se também afetado pelo fato de perceber que o seu apoio não está a ter os resultados pretendidos. Instala-se uma sensação como se estivesse pisando em ovos, porque você fica com receio de piorar ainda mais a situação. A probabilidade de você sentir-se perdido é enorme, sem saber que postura adotar. Talvez você já tenha passado pela experiência de dar algum conselho que não foi bem aceite. A depressão é uma perturbação do humor muito insidiosa, que pouco a pouco pode conduzir a pessoa a afastar-se das coisas e das pessoas que mais gosta. E isso pode fazer com que você fique confuso, sem saber como ajudar. Mas, se você quer mesmo ajudar, o seu apoio pode ser muito significativo. O seu apoio não pode substituir a ajuda profissional, nem deve. No entanto, se você aprender formas eficazes de comunicar e dar apoio à pessoa que enfrenta um momento de depressão, certamente facilitará a recuperação desejada.
Apresento
em seguida algumas formas e estratégias que o ajudarão a dar apoio
a quem enfrenta o problema da depressão:
ESTEJA
LÁ
A
melhor coisa que você pode fazer por alguém com depressão é estar
lá. É ficar com a pessoa, ao seu lado, reconfortando-a, ouvindo-a.
Você pode simplesmente sentar-se junto à pessoa que enfrenta o
problema da depressão e fazer-lhe companhia, não dizer nada ou
segurar na sua mão. Pode também em momento oportuno, calorosamente
dizer algumas frases do gênero:
“Você
é tão importante para mim. Estou aqui para ajudá-lo em algo que
necessite. Vamos encontrar uma maneira de ajudá-lo a sentir-se
melhor. “
DÊ
APOIO ATRAVÉS DE PEQUENOS GESTOS
Se
você está desconfortável com a expressão emocional, se não se
sente à vontade com as palavras, pode mostrar o apoio de outras
maneiras. Poder deixar um mensagem de apoio no voice mail, ou mesmo
enviar um e-mail motivacional. Pode convidar a sair para um jantar. Se
for um amigo, pode convidá-lo para ir ao futebol, ao cinema ou a um
concerto. Pode ajudar numa tarefa difícil, ou ao invés, colaborar e
promover alguma atividade que a pessoa goste de realizar.
NÃO
JULGUE NEM CRITIQUE
O
que você diz pode ter um impacto poderoso sobre a pessoa que sofre
com a depressão. Você pode ser levado a pensar que tudo não passa
de frescura por parte da outra pessoa. E que se ela quisesse só por
ação da vontade iria melhorar. A recuperação da depressão está
muito para lá de apenas ter-se vontade. É necessário uma
intervenção suportada por conhecimento técnico-prático e
fundamentado por um profissional qualificado.
Evite
dizer frases como:
- “Você só precisa ver as coisas pelo lado positivo”
- “Há pessoas que estão bem pior que você”
- “Eu acho que tudo isso é apenas da sua cabeça.”
- “Se você se levantasse da cama e fizesse alguma coisa, ficava mais animado.“
Estas
palavras usualmente têm um significado depreciativo para a pessoa
que sofre. A leitura e o entendimento que é feito de frases como
as anteriores é que a pessoa tem uma escolha na forma como se sente,
e que por livre vontade fica deprimido. Isto pode levar a que a
pessoa que está a lidar com a depressão,
se
isole ainda mais.
NÃO
MINIMIZE A DOR DO SOFREDOR
Não
dar a verdadeira importância à natureza da dor infligida pela
depressão, é o mesmo que alguém ter uma perna partida, ignorar
esse fato e dizer à pessoa que caminhe naturalmente, que a dor não
é impeditivo que caminhe. Deve levar-se em consideração que a
pessoa que está a enfrentar a depressão, efetivamente sofre com
isso, a sua dor é grande, e impossibilita-a de perspectivar uma
melhoria por si mesma.
Evite
dizer frases como:
- “Você é muito sensível”
- “Porque cada pequena coisa te incomoda?”
- “Deixa-te de frescura, bola para a frente.”
- “Não é só você que tem problemas.”
Frases
deste tipo, invalidam e desaprovam a dor que a pessoa está sentindo
e escamoteia completamente o fato de que está a enfrentar um
transtorno psicológico grave. Minimizar a dor da pessoa que sofre,
não olhando de frente a sua condição psicológica como um
transtorno mental, aponta e transmite que ela tem alguma fraqueza ou
falha de personalidade.
EVITE
DAR CONSELHOS
É
muito provável que em algumas conversas com a pessoa que sofre com a
depressão você possa ter impulso para dar conselhos, para que ela
tente isto ou aquilo. Mas quero dizer-lhe que cada caso é um caso e
que cada pessoa é diferente, reage e entende as coisas da forma como
olha o mundo. E quando a pessoa está a lidar com a depressão, a
visão dela mesmo, dos outros e do mundo fica alterada. Essa
alteração é um sintoma da depressão, e como tal os conselhos
podem não ser vistos com bons olhos. Não pretenda resolver o
problema por si mesmo, não queira corrigir a mágoa da outra pessoa.
Sempre que alguém com quem nos preocupamos está tendo um momento
difícil, ansiamos para corrigir a sua mágoa, e este ato benevolente
pode ser prejudicial.
Embora
possa ser verdade que a pessoa deprimida precisa de orientação,
afirmá-lo e oferecer-lhe deliberadamente essa ajuda, pode fazer com
que a pessoa se sinta ofendida, ou até mesmo sentir-se ainda mais
incapacitada.
O
que é mais funcional e assertivo, ao invés dos conselhos, é
perguntar:
- “O que posso fazer para ajudá-lo a sentir-se melhor?”
- “Se necessitar de algo que eu possa ajudar, estarei disponível para colaborar.”
Isso
dá a oportunidade à pessoa que está deprimida de pedir ajuda.
Quando uma pessoa pede ajuda, está mais receptiva a receber
orientação sem sentir-se insultado ou melindrado.
EVITE
FAZER COMPARAÇÕES
A
menos que você tenha experimentado um episódio depressivo mesmo,
dizer que você sabe como uma pessoa com depressão se sente não é
útil. Embora a sua intenção possa ser, provavelmente, para ajudar
o seu amigo, familiar ou parceiro no sentido de sentir-se mais
acompanhado no seu desespero, isso pode interromper a conversa,
inibindo o seu apoio.
Mas
atenção, mesmo que você tenha superado a depressão e possa
entender melhor o sofrimento da outra pessoa, lembro-o que as dores
são diferentes, assim como as causas e a forma de lidar com os
problemas. Por isso, descreva a sua dor, mas respeite sempre a
magnitude da dor do outro.
SAIBA
O MÁXIMO QUE PUDER SOBRE A DEPRESSÃO
Você
pode evitar os erros acima descritos e mal-entendidos simplesmente
procurando informação sobre a depressão. Uma vez que você entenda
claramente os sintomas da depressão, e as consequências, fica numa
posição mais sustentada para apoiar melhor a pessoa que sofre.
Por
exemplo, algumas pessoas assumem que se uma pessoa com depressão tem
um bom dia, ela está curada. A depressão não é um transtorno
estático. Há um fluxo e refluxo dos sintomas da depressão que
muitas pessoas não-deprimidas não entendem. Um adulto que está
deprimido ainda pode rir-se de uma piada, e uma criança que está em
desespero ainda pode assistir às aulas, tirar boas notas e até
parecer alegre.
A
verdade é que os sintomas depressivos estão ancorados noutro lugar,
escondidos, por isso
é importante saber que a depressão tem muitas vezes uma gama de
sintomas imperceptíveis. São sintomas mascarados.
SEJA
PACIENTE
A
paciência é uma parte fundamental de apoiar a pessoa com depressão.
Quando você é paciente com a pessoa deprimida deixa que ela perceba
que não importa quanto tempo isso vai levar, ou quão difícil será
o período em que predominam os sintomas debilitantes, porque você
vai estar lá. E essa paciência tem um resultado poderoso. Com a
paciência, vem a esperança. E quando alguém enfrenta a depressão,
a esperança pode ser difícil de encontrar.
Às
vezes, apoiar alguém com depressão pode levar ao sentimento de
estar caminhando numa corda bamba. O que posso dizer? O que não
digo? O que eu faço? O que não devo fazer? Mas lembre-se que apenas
o fato de estar lá com a pessoa, mostrar o seu apoio e perguntar
como você pode ajudar, pode ser uma dádiva incrível.
COISAS QUE VOCÊ PODE DIZER A ALGUÉM COM DEPRESSÃO
Então
o que pode ser dito a uma pessoa com depressão? Evidentemente, que o
que apresento são sugestões baseadas na minha experiência e nos
procedimentos terapêuticos que surtem efeito no tratamento da
depressão. De maneira nenhuma, as sugestões que apresento
substituem a terapia, nem podem ser consideradas terapia. 10
sugestões:
1. POSSO ALIVIAR O SEU STRESS DE ALGUMA FORMA?
Não
verbalize apenas o seu interesse, mostre-o. As palavras não são
tudo o que uma pessoa que sofre com a depressão necessita. Porque,
umas das grandes frustrações sentidas por quem dá apoio, é
perceber que a grande maioria das palavras proferidas, caiem em saco
roto, ou têm o efeito inverso. A pessoa que presta apoio à pessoa
deprimida, está numa situação vulnerável e muito ingrata, pois
grande parte das coisas que sugere podem ser mal interpretadas. Se
você ajudaria um amigo com uma perna partida a subir um lance de
escadas, porque razão não pode ajudar um amigo deprimido a fazer o
almoço? Por que não aliviar e facilitar um pouco o dia-a-dia da
pessoa que enfrenta um sério transtorno de humor? Materialize o seu
apoio.
2.O
QUE VOCÊ ACHA QUE PODE AJUDÁ-LO A SENTIR-SE MELHOR?
Esta
é uma pergunta muito poderosa, você parte do principio que pode ser
possível a melhoria. No entanto, se a resposta for displicente, se a
pessoa responder de forma negativa: “Nada me fará sentir melhor.”
Não insista, não contraponha. Reformule a pergunta: “Mas queres
sentir-te melhor?” Se a resposta for afirmativa, confirme com um:
“Ótimo, pouco a pouco irás sentir-te melhor.”
3.
EXISTE ALGO QUE EU POSSA FAZER POR VOCÊ?
Novamente,
como o número um, este é um momento de ação, de fazer e não de
dizer, e isto é muito eficaz na comunicação de compaixão.
Compaixão
é ter empatia adicionada de ação.
Provavelmente a pessoa deprimida só vai balançar a cabeça enquanto
chora, mas certamente ela irá registrar a sua dádiva. Na mente dela
irá ecoar: “Esta pessoa preocupa-se comigo.”
4.
NECESSITA QUE LEVE VOCÊ A ALGUM LUGAR?
Numa
situação mais crítica dos momentos depressivos a pessoa pode estar
numa situação bastante incapacitante. No entanto pode necessitar de
deslocar-se, de ter de ir a algum local, e certamente não estará em
condições de dirigir sozinha, ou andar sozinha. A má condução
pode ser uma manifestação de um transtorno de humor. Esta sugestão
não é apenas para ajudar seus amigos, familiares ou parceiro
deprimidos que talvez precisam de ajuda nas compras, mas também
todas as outras pessoas que conduzem na estrada.
5. VOCÊ ESTÁ RECEBENDO ALGUM TIPO DE APOIO?
Se
a resposta for positiva, ótimo. Você pode reforçar essa decisão,
e tentar perceber se existe progresso e o que tem melhorado com o
suporte profissional. Se a resposta for pela negativa, você pode
voltar a fazer nova pergunta:
“Você
acha que necessita de algum tipo de apoio profissional?”
Se
a resposta for afirmativa, você pode continuar e incentivar:
“Vamos
descobrir uma maneira de obtê-lo.“
Se
a pessoa não pretender qualquer tipo de ajuda profissional. Nesse
exato momento não insista nesse assunto. Pondere voltar ao assunto
mais tarde, descobrindo perguntas alternativas, do gênero:
“Como
acha que você vai superar este período menos bom da sua vida?”
6.
VOCÊ NÃO VAI SENTIR-SE ASSIM PARA SEMPRE.
Esta
é uma afirmação de esperança, de não crítica e muito poderosa.
Transmitir esperança é extremamente importante, é a primeira linha
de apoio à pessoa deprimida. A
esperança permite criar algum impulso, permite ativar a motivação
e quebrar a paralisia da vontade, tão característico das pessoas
deprimidas.
7.
EXISTE ALGO QUE VOCÊ JULGUE ESTAR A CONTRIBUIR PARA A SUA DEPRESSÃO?
Esta
é uma forma simpática e não ofensiva de conduzir a pessoa para
aquilo que à partida ela sabe que está a acontecer para o seu baixo
humor. Atenção que saber algumas das causas ou coisas que
contribuem para a pessoa ter entrado num estado de humor diminuído,
não quer dizer que apenas isso irá resolver o problema. Longe
disso. No entanto, permite à pessoa perceber que o seu estado
abatido relaciona-se com a sua vida. E assim sendo, a pessoa pode
assumir fazer algo para melhorar o seu estado, e que acima de tudo é
possível melhorar. Quando
a pessoa perceber o que está acontecendo na sua vida que a impede de
ter prazer, que lhe retira energia e vontade, pode lidar com a
situação de um forma mais prática.
8. QUE ALTURAS DO DIA OU QUE SITUAÇÕES SÃO MAIS DIFÍCEIS PARA VOCÊ?
Esta
pergunta é muito capacitadora. Indiretamente, você está
transmitindo à pessoa que sofre de depressão uma mensagem
inequívoca: “
“Você
não está mal o tempo todo, nem em todas as situações.”
Provavelmente
a pessoa deprimida tem extrema dificuldade pela manhã, na hora de
levantar-se da cama. Ou ao final do dia quando o cansaço se instala.
Estes podem ser períodos mais críticos e a pessoa necessitar de
mais apoio. Perceba conjuntamente com ela o que pode ser feito para
aliviar o sofrimento nessa alturas mais difíceis. Por vezes,
associado à depressão a pessoa sofre de ansiedade. Nessas alturas
críticas a ansiedade aumenta. Conseguir descobrir algumas
estratégias para diminuir a ansiedade, pode ser muito satisfatório.
9.
EU ESTOU AQUI PARA VOCÊ.
É
simples. É reconfortante. Esta frase comunica tudo o que você
precisa dizer:
“Eu
importo-me, eu estou com você, eu realmente não entendo isso, mas
eu gosto de você, e torço por você".
10.
NÃO FAÇA NADA.
Isso
é o mais desconfortável, porque sempre queremos preencher o
silêncio com alguma coisa, mesmo que seja falar sobre o tempo. Mas
sem dizer nada, e apenas ouvir, às vezes é a melhor resposta, e o
mais apropriado.
Tal
como nos diz, Rachel Naomi Remen no livro, Histórias
que curam – Conversas sabias ao pé do fogão:
"Eu
suspeito que a forma mais básica e poderosa para conectar-se a outra
pessoa está em ouvir. Basta ouvir. Talvez a coisa mais importante
que tem de dar-se ao outro é a nossa atenção. E especialmente se
for dado de coração. Quando as pessoas estão falando, não há
necessidade de fazer nada, mas recebê-las. Ouça o que elas estão
dizendo. Preocupe-se com isso. Na maioria das vezes levar a outra
pessoa em consideração é ainda mais importante do que entendê-la."
Por
Miguel
Lucas em
Saúde
e Bem-Estar (Licenciado em Psicologia,
exerce em clínica privada. É também preparador mental de atletas e
equipas desportivas, treinador de atletismo e formador na área do
rendimento desportivo.)
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